Professor, como o senhor avalia o
projeto que regulariza a terceirização?
A terceirização no Brasil já é permitida
para as chamadas “atividades meio”, ou seja, em serviços que não estão
diretamente ligados ao objetivo final da empresa. Serviços como limpeza,
manutenção e vigilância já são terceirizados no Brasil. No entanto, é bastante
claro que os trabalhadores terceirizados têm menos direitos trabalhistas e
recebem até 25% a menos que os trabalhadores diretos.
Como tem menos direitos trabalhistas?
É porque os contratos entre empresas – a
contratante e a terceirizada – pode ser temporária. Uma das formas das
terceirizadas não estabelecer vínculo com os empregados, e assim não pagar 13º
e demais outros direitos (como o seguro-desemprego), é fazer contratos
temporários, rotativando sua mão-de-obra, e forçando os salários para baixo.
E como fica com o PL 4330?
Esse projeto de lei amplia a
terceirização, permitindo para as chamadas “atividades fins”, ou seja, para os
serviços ligados aos objetivos finais das empresas. Por exemplo, uma montadora automobilística
pode demitir todos os seus trabalhadores que fabricam os carros e contratar uma
empresa terceirizada, que por sua vez contratará de forma precarização e flexibilizada
uma nova mão-de-obra, com salários reduzidos e sem cobertura sindical.
Como isso repercute na vida do
trabalhador?
Para entender isso, basta fazer um
raciocínio simples. Toda empresa, para aumentar seus lucros, busca reduzir os
salários de seus trabalhadores. Como atualmente existe uma legislação que
garante alguns direitos, a simples redução de salários e direitos é impossível.
Porém, com a terceirização geral, isso se torna provável.
Uma vez legalizada, a empresa demite seus
funcionários e contrata uma terceirizada, por um valor proporcional menor que
os “gastos” que tinham com os antigos funcionários. Essa, por sua vez, contrata
outros trabalhadores (até mesmo os “mesmos” demitidos), mas com salários
menores ainda, pois a empresa terceirizada também busca o seu lucro. Além
disso, os contratos temporários permitem que vários direitos previstos pela CLT
e pela Constituição não sejam cumpridos. Não é a toa que as PEC 664 e 665 – que reduziram os direitos sobre
o seguro-desemprego – foram impostas no início desse ano. Em outras palavras, as empresas (contratante e
contratada) lucram em cima da maior exploração sobre os trabalhadores. E para
piorar, os mesmos sindicatos que fazem a defesa dos trabalhadores diretos não podem
representar oficialmente os empregados terceirizados. O PL 4330 é um retrocesso
aos direitos históricos dos trabalhadores conquistados nos últimos cem anos.
Como os trabalhadores podem reverter
isso?
A luta em defesa de seus direitos não é
uma ação isolada. Ou seja, não se resolverá se cada um buscar uma saída
individual. É uma luta coletiva de toda a classe trabalhadora, não importa a
sua categoria profissional, se é da iniciativa privada ou do serviço público. A
terceirização atinge a todos.
É necessário que todos se unam nessa
luta contra a terceirização. As centrais sindicais (como a CUT, a CSP-Conlutas,
a CTB) e diversos movimentos sociais (UNE, MST, Anamatra) estão há anos na luta
contra esse projeto. Porém, é preciso dinamizar essa luta. Os trabalhadores
precisam ocupar as ruas, mobilizar a sociedade e pressionar com grandes atos
públicos – e se for preciso, com greve geral – para impedir esse ataque. Se
isso não ocorrer, a grande maioria da população irá sofrer profundamente nos
próximos anos.